Vale muito visitar a Bienal. É uma edição para desacelerar, ouvir histórias, caminhar entre memórias e imaginar futuros mais coletivos

Esta edição traz como tema “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”. Inspirada no poema de Conceição Evaristo, a mostra reúne cerca de 120 artistas de mais de 50 países. Este ano, o conceito curatorial foi dividido em seis capítulos, distribuídos pelos três andares do pavilhão. E algumas criações que não só encantam o público, como também me tocaram pessoalmente.

Piso térreo e o 1º andar

Capítulo 1 – Frequências de chegadas e pertencimento
Um convite a olhar para o solo, envolvendo a relação do humano (que vem do humus = terra útil), da terra (rios, plantas e animais) e da memória.

Capítulo 2 – Gramáticas de insurgências
Artistas exploram arquivos coloniais, resgatam narrativas apagadas e propõem nova linguagem de luta através vídeos e instalações.

ARTISTAS

Ana Raylander Mártis dos Anjos – A Casa de Bené
Colunas de madeira cobertas de couro e tecidos reconstroem a casa do bisavô da artista, demolida pela mineração em Minas Gerais.

Nádia Taquary – Ìrókó: The Cosmic Tree
Esculturas em bronze e fibra que fundem corpo feminino, aves e árvores.

Tanka Fonta – Philosophies of Being, Perception, and Expressivity of Being.
O mural monumental, cheio de cores vibrantes e formas orgânicas, cria uma atmosfera quase sagrada.

Song Dong – Borrow Light
Uma instalação de uma sala espelhada repleta de luminárias convidando à contemplação da efemeridade humana.

2º andar

Capítulo 3 – Sobre ritmos espaciais e narrações
Mapas, fotos e filmes exploram marcas deixadas por deslocamentos, migrações e transformações urbanas.

Capítulo 4 – Fluxos de cuidado e cosmologia plurais
Instalações que oferecem outras formas de relação com o mundo, ervas, água e objetos rituais ressaltam a relação entre ecossistemas e culturas.

ARTISTAS

Moffat Takadiwa – Portals to Submerged Worlds
Recria simbologia da Arca de Noé para questionar consumismo, desigualdade e seu impacto ambiental transforma resíduos do dia a dia em mantas têxteis feitas de plástico e metal descartados.

Marlene Almeida – Living Earth
Tiras de couro suspensas se encontram com solos de diferentes regiões do Nordeste. A obra conecta corpo e território, provocando uma reflexão sobre memória ecológica e resistência.

Olivier Marboeuf   La Ronde des Vies Bonnes
Obra que investiga as narrativas pós-coloniais e o papel da memória coletiva propõe reflexões sobre pertencimento, deslocamento e as histórias que moldam identidades.

Otobong Nkanga – Unearthed
Obra que explora a relação entre corpo, terra e recursos naturais, sobre extração, perda e regeneração.

3º andar

Capítulo 5 – Cadências de transformação
Mudança à vista em condição permanente nos 4 meses da mostra, peças mudam de forma.

Capítulo 6 – A intratável beleza do mundo
Celebra a beleza em ato de resistência, obras que mostram o belo, no que resiste e sobrevive.

ARTISTAS

Aislan Pankararu -Rampa Rítmica
Pintura entrelaçando grafismos tradicionais, bolinhas, cruzes, formas orgânicas, evocam memória, ancestralidade e território.

Antonio Társis – Orchestra Catastrophe: Act I  
Instalação composta por caixas de fósforos, instrumentos, cordas, carvão e componentes eletrônicos. A obra encena uma coreografia de destruição e sobrevivência.

Moisés Patrício – Onde nos alinhamos – caminhos de Mestre Didi
A instalação transforma o espaço tridimensional em território, em que formas, materiais e significados se confrontam, elásticos de cabelos, velas e cerâmicas.

María Magdalena Campos-Pons – Macuto
A instalação explora a interseção entre materialidade e espiritualidade, a sabedoria ancestral, o tempo e as práticas coletivas de cura.

O que mais chama atenção nesta edição:
  • A presença forte de ancestralidade afro-brasileira e indígena.
  • O uso de materiais naturais e manuais: crochê, couro, terra, pigmentos e fibras.
  • A valorização de experiências imersivas que ativam não só a visão, mas também os outros sentidos.

36ª Bienal de Arte de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática

Curador geral: Bonaventure Soh Bejeng Ndikung / Cocuradores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza / Cocuradora at large: Keyna Eleison / Consultora de comunicação e estratégia: Henriette Gallus / Cocuradores adjuntos: André Pitol, Leonardo Matsuhei

6 set 2025 – 11 jan 2026

ter, qua, qui, sex e dom, 10h – 18h (última entrada: 17h30)
sábado, 10h – 19h (última entrada: 18h30)

Pavilhão Ciccillo Matarazzo

Parque Ibirapuera · portão 3 · São Paulo, SP
entrada gratuita

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